Anísio Teixeira foi uma figura luminar da história do Brasil. Educador, filósofo, escritor, homem de pensamento e ação, com vinte e quatro anos assumiu a direção da Educação de seu estado natal, a Bahia, e promoveu uma reforma que ampliou, em muito, o escopo da educação no estado.
Aos trinta e um anos foi chamado para dirigir a Educação no Rio de Janeiro, na época Distrito Federal. Estava em curso a Revolução de 30 e Anísio, sentindo o precário quadro da educação no Rio, elaborou um audacioso plano de revigoramento do setor, realizando uma administração que o projetou nacionalmente. A respeito, Alberto Venâncio Filho, membro da Academia Brasileira de Letras, escreveu que “durante quatro anos, Anísio realizou como Secretário da Educação e Cultura do Distrito Federal a obra mais importante em matéria de educação no plano estadual que já se fez nesse país”.
É ainda sob o influxo das ideias mudancistas da Revolução de 30 que proeminentes educadores, entre os quais Fernando de Azevedo e Anísio Teixeira, apresentam à Nação o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, onde sustentam, pela primeira vez no país, que o Estado deve ser o organizador de uma escola, pública, universal, laica, obrigatória e gratuita. O Manifesto inaugurou o projeto nacional da reconstrução educacional.
O coroamento da atividade de Anísio à frente da Educação no Rio de Janeiro, quando esta era capital da República, foi a fundação da Universidade do Distrito Federal – UDF, em abril de 1935. O Brasil conheceu, então, uma concepção de universidade que não era a de uma confederação de faculdades isoladas. A UDF se estruturou em torno de institutos e escolas, e pela primeira vez, a formação do professor de educação primária, a cargo da Escola Normal, foi incluída na categoria de ensino de nível superior.
A onda repressiva que se seguiu à Insurreição de 1935 retirou Anísio das importantes funções que com brilhantismo exercia e a UDF foi sendo esvaziada e terminou extinta. Para escapar à prisão política, Anísio se refugiou no alto sertão da Bahia e ficou afastado da vida pública por um período de 10 anos.
No final da década de 40, Anísio assume pela segunda vez na Bahia a pasta da Educação e Saúde, no governo de Otávio Mangabeira. Data desta época a criação do complexo escolar Centro Popular de Educação Carneiro Ribeiro, mais conhecido como Escola Parque da Bahia, a primeira experiência de “educação integral e em tempo integral” da América Latina, que se tornou mundialmente conhecida.
No início dos anos 60, Anísio recebe outra tarefa de grande significado – conceber uma universidade para a nova capital federal, Brasília. Essa tarefa foi assim descrita por quem a definiu, o presidente Juscelino Kubitschek, em seu livro “Por que construí Brasília”: “Do meu entendimento com o ministro Clóvis Salgado resultara a escolha do técnico que se incumbiria da tarefa: o professor Anísio Teixeira. Tratava-se de um idealista, profundo conhecedor das melhores técnicas educacionais, e de um intelectual dotado da visão universalista do papel que competia à juventude desempenhar em face dos desafios do mundo moderno”.
E a Universidade de Brasília – UnB foi então concebida por Anísio Teixeira, que resgata a concepção básica da antiga UDF. A UnB é implantada em íntima colaboração com seu discípulo e grande amigo Darcy Ribeiro, que foi seu primeiro Reitor. Depois veio o golpe de 1964, que encontra Anísio como Reitor da Universidade. E mais uma vez ele é afastado da vida pública.
A presença marcante de Anísio Teixeira na educação brasileira transformou-o em uma referência no Brasil e fora dele. Era o arauto principal da ideia de tratar a educação à luz dos interesses da Nação, como um problema nacional, uma questão de Estado, daí Hermes Lima tê-lo chamado de “estadista da educação”. Sua influência, vasta e multilateral, ainda guarda atualidade, a ponto de a professora Clarice Nunes, em sua tese de doutorado na PUC/RJ, intitulada “Anísio Teixeira, a poesia da ação”, assinalar que “tudo que se faz hoje em educação no Brasil remete a Anísio Teixeira”.
Mas Anísio não era uma referência neutra em educação. Seu empenho e destemor em fortalecer a escola pública, universal, laica, gratuita e de boa qualidade; o lema que levantou segundo o qual “Educação não é privilégio”; sua visão de futuro que o levou a criar instituições como a CAPES, a Escola Parque, a UDF, a UnB; a ousadia de suas ações no INEP, que dirigiu por 15 anos; a rede de Centros de Pesquisas Educacionais que criou pelo Brasil afora; sua ligação com a cultura e com os órgãos de ciência e tecnologia; as bibliotecas que ajudou a formar e disseminou pelo país; as escolas que construiu; sua preocupação com a arquitetura dos prédios escolares; seu incentivo às diversas linguagens artísticas e apoio aos artistas; e suas experiências inovadoras de educação integral em escolas de tempo integral, realçavam o caráter avançado de suas ideias e o transformaram em um ícone da intelectualidade progressista do Brasil. Foi, segundo Darcy Ribeiro, o “pensador mais discutido, mais apoiado e mais combatido do Brasil” e, segundo Florestan Fernandes, “o único filósofo da educação brasileira”.
A vida de Anísio Teixeira foi muito curta para o Brasil. Nascido em 12 de julho de 1900, em Caetité, no alto sertão da Bahia, veio a morrer no Rio de Janeiro, em março de 1971. A data precisa até hoje não está esclarecida, como não estão as circunstâncias de sua morte. Desapareceu no dia 11 de março e no dia 13 seu corpo foi encontrado no fosso de um elevador. Naquele ano de 1971, e no Rio de Janeiro, onde há menos de dois meses o deputado Rubens Paiva tinha sido sequestrado por militares da Repressão e morto sob tortura, a hipótese de crime político foi logo levantada. Perícia não foi feita sobre o “acidente” que teria causado a queda no fosso do elevador. Mas a conclusão oficial é de que foi “acidente”. Familiares, discípulos e amigos até hoje rechaçam esta versão. O então governador da Bahia e ex-ministro da Justiça do governo militar, Luis Viana Filho, na biografia que fez sobre Anísio, intitulada “Anísio Teixeira, a polêmica da educação”, não assume a versão do “acidente”, e deixa tudo sob a égide da dúvida. Diz ele: “Anísio morrera caído no poço do elevador do edifício para o qual se dirigira. Ninguém vira nada. Era a tragédia sem testemunhas, e sobre ela pairavam todas as conjecturas e todas as interrogações.”.
A Casa Anísio Teixeira, em Caetité, vinculada à Fundação Anísio Teixeira, busca cumprir seu objetivo de preservar e divulgar o pensamento e a obra do grande educador, especialmente seu ideal de cultura para todos e de educação para a democracia.